Mulheres cirurgiãs

Apesar de a maioria dos profissionais médicos formados atualmente ser composta por mulheres, explicar por que há poucas mulheres interessadas em se tornar cirurgiãs é um tema complexo, sem uma resposta única. Neumayer destaca que a falta de modelos femininos na cirurgia pode limitar a escolha dessa carreira para estudantes de medicina. Park et al., analisando questionários respondidos por mulheres cirurgiãs e estudantes de medicina do último ano, concluíram que o interesse feminino pela cirurgia é equivalente ao masculino.

Dados obtidos por Ferri et al. em estudo semelhante aos de Parker mostram que 15% das entrevistadas (413) sentiram discriminação na admissão para residência, mas quase a metade (199) afirmou que suas carreiras não foram prejudicadas por discriminação. No mesmo estudo, 82% (338/413) das entrevistadas afirmaram ser necessária a presença de modelos femininos.

Diferentemente dos homens que escolhem profissões ou especialidades de acordo com seus interesses, as mulheres, mesmo sendo mais capazes, enfrentam inúmeros obstáculos. Apesar do quase extinto preconceito de gênero no Ocidente, algumas famílias ainda favorecem a baixa autoestima, insegurança intelectual e dependência emocional e financeira nas mulheres. A sociedade valoriza mais atributos físicos do que destreza, habilidade manual e inteligência, essenciais para o sucesso como cirurgiã. Mesmo com avanços nos direitos civis, as mulheres na Medicina, especialmente na Cirurgia, ainda lidam com desafios como chantagens, assédios e ridicularizações.

Segundo Pringle, o fenótipo masculino inspira 25% a mais de confiança. Isso implica que uma mulher, para ter as mesmas chances de sucesso que um concorrente masculino, precisa demonstrar ser pelo menos 25% mais capacitada. Personalidades fortes, autocontrole, mente questionadora, liderança e agressividade, considerados favoráveis para cirurgiões, são vistos como estranhos à feminilidade, gerando dúvidas quanto à capacidade das mulheres.

As dificuldades enfrentadas pelas mulheres que desejam ser cirurgiãs, como a falta de autoconfiança e modelos inspiradores, juntamente com a escassez de suporte institucional para mães médicas, ainda contribuem para o baixo número de mulheres cirurgiãs. À medida que esses obstáculos são superados, a escolha da Cirurgia como especialidade dependerá cada vez mais dos interesses pessoais das mulheres.

Referência bibliográfica:

Park J, Minor S, Taylor RA, Vikis E, Poenaru D. Why are women deterred from general surgery training? Am J Surg. 2005; 190(1):141-6

Ferris LE, Mackinnon SE, Mizgala CL, McNeill I. Do Canadian female surgeons feel discriminated against as women? CMAJ. 1996; 154(1):21-7.

Pringle R. Sex and medicine. Cambridge: University Press; 1998.

Primeira mulher na robótica

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Eventos realizados

Encontro mulheres cirurgiãs (26/09/2022)

Evento Salvata (23/05/2022)